quinta-feira, julho 21, 2005

Do Caderno de Anotações

Não sei se já havia postado isso antes...

abriu a janela como quem abre os olhos
para dentro
era, então, simples:
que a paisagem se lhe apresentasse desolada
devastada, como a terra do poeta,
essência do que significa
ser - vítima e algoz de um mundo cruel e fatal.

abriu a janela, e os olhos,
à procura de um reflexo seu no mundo
e se viu cego de significados,
(porque toda a paisagem continha elementos
mas não era nada, não lhe sabia os nomes ou razão)
não reconhecia pessoas, objetos, cores
- e os sabia logo ali, fora da janela e exterior
a seu corpo e ser e existência.

cego, já não adiantaria fechar olhos
janelas frestas elos - não adiantaria
o vazio das coisas impregnara-o, tomando-lhe o ar,
o sangue, o peito
incutindo-lhe uma angústia
a se manifestar no desejo de enxergar
distinguir no mundo o que era ele, o que era paisagem
- se não eram nada
mas a janela fechou-se, antes expulsando-o de si mesmo.