quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Sem Céu

agora eu me lembro. é a terceira vez na vida. primeiro, encarar o desencanto. logo, o ego arrastando-se pela sarjeta, a auto-estima nocauteada em um beco sem saída. o sentimento, que deveria manter-se sublime, parte para cima do mundo com um punhal e óculos escuros.
dizem que um cachorro aprende na segunda vez. é a terceira vez em que isso me toma o corpo feito doença. as noites esvaziam-se em pensamentos estéreis. quanto mais eu repito o verbo, mais ele me engana. acabar vira sinônimo de rejeição. esperar torna-se ilusão. encontrar, traição.
ainda assim, pela terceira vez na vida (ou primeira, ou quarta; isso foi e será exatamente igual, sempre), eu vou afundar-me em um pântano cheio de tormentos de uma história que acabou antes que eu acabasse, como um dia natimorto. e não é o ego. não é o sentimento um dia batizado de amor (e que hoje renega o próprio nome). não é a culpa por não ter conduzido a dança no ritmo correto. não é o medo de jamais ter sido amado. nem a solidão, o instinto ou o princípio de obsessão que me derrubam feito doença. apenas, um eclipse na noite - por um momento, o mundo sem um céu. um eclipse na noite.