terça-feira, setembro 30, 2008



Tenho cada vez mais medo que a loucura me siga nas ruas,
e me persiga se eu começar a correr.
Que vá comigo para casa na noite dos dias,
se instale no meu riso e o torne estridente,
descubra o meu sorriso e o destrua,
encontre as minhas palavras e as separe em letras,
conheça os meus amigos e os torne sérios e conscientes,
decifre os meus códigos e me roube,
encontre as minhas paixões e as ridicularize,
pressinta os meus sonhos e adivinhe os meus pesadelos
e saiba mais de mim que eu.
Tenho a incerteza dos loucos,
o estranhamento dos sábios, a surpreza dos insurpreendíveis,
os desejos dos homens.
Levo tudo comigo na pele e nos dias cheios de horas,
minto à verdade e faço-me cumplice da mentira desvirtuada.
Estou sentada nas possibilidades e conheço a perguiça das coisas.
Não persigo nada do que é bom, espero por nada, conheço o que não interessa,
deixo os dias passarem,
as pessoas me abandonarem (sem nunca saberem se/que são importantes,
a loucura oposta).
Surjo de repente, assusto, fujo.
Escondo pandoricamente o mundo dos loucos: liberto o invertido da loucura,
mas aprisiono a loucura em mim como se fosse esperança
(porque ela é o que de bom não conseguimos libertar, largar, mostrar,
deixar ir, deixar ser).
É um estado que se prolonga, qualquer coisa que se arrasta aqui dentro, no escuro.