quinta-feira, janeiro 26, 2006

sem amor - (porque é sempre bom relembrar)

diz quantos mistérios eu tenho na palma da mão e a aperte com força, até doer os ossos, contrair os nervos, até que a dor se converta em lágrimas e então me beije com avidez e profundidade. e pressa.
me beije, me domine e desapareça.
suma por dias, que a mim passarão como anos, a eternidade sempre por um fio.
sem notícias, deixe apenas rastros de sua passagem e existência, para que eu sofra, para que eu sinta seu cheiro ao caminhar pelas ruas e seja invadida por uma vontade grande de morte.
no desespero, vou sentir seus pés a caminhar sobre meu peito em brasas, e então meu único desejo será acabar com este sofrimento a qualquer preço.
esta será a hora certa de você ressurgir à minha frente, colorindo o dia com vivacidade, levando-me a transbordar de alegria a cada menção que fizer a qualquer espécie de afeto que possa ter por mim.
exultante, serei linda como jamais espelho algum me vira antes.
e vamos nos amar, com muito instinto e pouca intensidade,
de fome e sede de seu corpo - intenso e obsessivo.
depois, você vai vestir suas roupas e sair, alegando comprar um vinho para nós.
mesmo sabendo que isto é outro adeus, consentirei sem sequer mover um braço.
os dias voltarão a ser somente amargura, com um tanto de melancolia.
e, do fundo da espiral depressiva, ainda à sua procura, estarei agradecendo aos céus por não o possuir.


(Retrato em Branco e Preto - Tom Jobim e Chico Buarque)

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cór
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

terça-feira, janeiro 03, 2006

sem falta...

Não adianta procurar.
Depois que você se foi, não ha mais um sinal sequer de sua passagem por esta casa. Nunca mais cada-coisa-em-seu-lugar, o sufoco que era ter de me lembrar de detalhes idiotas que só faziam afetar meu humor.
o alívio de poder ir trabalhar com a mesma calca de ontem - e dormir com ela também quando está frio demais pra tomar banho.
Somente agora percebo tudo o que você vinha fazendo com minha vida,
as suas exigências idiotas,
seu modo conservador de pensar,
alguns pops insuportáveis no aparelho de som - só substituídos por um disco de Mozart ou Legião no seu violão quando dormíamos brigados.
Outro dia, ao procurar uma conta, encontrei um cd seu debaixo da estante.
Fiz questão de ouvir, só pra poder saborear melhor minha liberdade.
Mas estava riscado; joguei fora.
Fiz tudo como manda a etiqueta das separações: de trocar a fechadura da porta a queimar as fotos e outros objetos pessoais seus.
Arranjei outro, fiquei só, sonhei...
Não, eu não te amo mais, nem te procuro em outras pessoas.
Sequer sinto sua falta aqui em casa.
Por isso, pode ficar tranqüilo.
E, quando você me perdoar, por favor me liga. sem falta